bananeiras e maple trees





Os dois sentados frente a um lago. Ela de cabelos brancos e ele com seus fios ralos agrisalhados. Olha pra ele, olha pro lago. Volta a fitá-lo e de novo ao lago. Você me tem salva? ela pergunta, enquanto ele olha pro lago sem responder. É que te vi e tive a impressão de ter você salvo! Só então ele percebeu que era com ele. Vira-se então pra ela, a princípio com sua expressão tranquila, mas ficando sério, franzindo a testa enquanto se aproxima inclinando-se em sua direção, tentando com isso validar a vista. Arregala os olhos quando aparentemente encontra o que procura, afastando-se e inclinando-se novamente, mas agora pra trás. Todos os pensamentos a um só tempo. Bicicletas, aves, farfalhar de eucaliptos, coqueiros, sibipirunas, bananeiras, maple trees, neve, praia. Ele, enquanto se afasta da lógica em seus devaneios, tira um palm do bolso e balbucica algo. Sem tirar os olhos dela, ergue o aparelho a meio dorso (ela ri assistindo à cena toda), aperta um botão e diz: "cachoeira", voltando-se agora pro monitor do gadget, esperando dele uma resposta, que vem instantaneamente, em forma de uma bateria de fotos, aparentemente desconexas mas todas com uma cachoeira ao fundo, se alternando em altíssima velocidade e aparentemente dando em um resultado positivo. Pausa! diz ele. Volta, volta, diz depois. Olha então pra ela. Fica sério e força a vista de novo, apertando os olhos, como quem não se convence do que vê. Volta-se ao aparelho, erguendo uma só sobrancelha. Leva em seguida o aparelho até a vista dela, que arregala os olhos e, por sua vez, ergue ambas sobrancelhas em susto, enquanto abre um sorriso e deixa o queixo cair, dizendo um ah mas sem soltar som algum. Ele a olha bem nos olhos, fica mexendo a cabeça como quem diz não, absurdado, num movimento contínuo, rápido mas bem sutil. Sem deixar de olhá-la, puxa novamente pra si o aparelho, dizendo dessa vez: "chuva de cavinete!" e mostra a ela o resultado. O que é isso? Pergunta ela. E é a vez dele de arregalar os olhos, puxando abruptamente o palm pra si. Ele acha graça e vai dizendo: Canivete! Chuva de canivete! e, de novo confiante de que a busca era precisa, vai mostrando novamente a ela o resultado, enquanto pede desculpa, com uma voz grossa, meio rouca, envelhecida mas que ela ainda reconhecia. Ela nem olha o resultado. Eu me lembrei, diz. Na hora em que você falou a primeira vez eu já tinha entendido o que você procurava... Então é você mesmo! ela diz bem em tom de espanto novamente, esticando o "e" do "mesmo", com cara de eu-sabia. Ele se ajeita no banco, dá a ela um descanso de sua mira e, ajustando-se bem ao encosto do banco, volta o olhar de novo pro lago, sorrindo... Uns gansos perto fazem barulho mas eles dois nem reparam. Nossa!! ela diz. Você tá quase careca, hein?!

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